AULA DA QUARTA SEMANA - PET VOLUME 2
PET 2 - Texto Complementar 4: John Locke
John Locke:
Conhecido como o "Pai do Liberalismo" e um dos
três grandes filósofos do Empirismo Britânico, John Locke foi um filósofo britânico do século XVII que
exerceu grande influência no republicanismo clássico, na teoria liberal e, seguindo
a tradição de Sir Francis Bacon, no empirismo
e iluminismo escocês.
Locke foi ainda o primeiro a definir a identidade do ser como continuidade da
consciência, abrindo caminho para o debate moderno acerca da identidade e ser,
que viria a originar o campo de estudo que hoje chamamos de "filosofia da mente".
Em sua obra Dois Tratados sobre o Governo, Locke argumentou contra
a monarquia absoluta e
defendeu que o convencimento individual é a base da legitimidade política. O
primeiro tratado é dedicado a refutar o patriarcalismo,
uma posição politica surgida na Inglaterra do século XVII, que buscava
identificar o monarca com uma figura paterna, argumentando em favor de seu
poder absoluto e de seu caráter fraterno. Robert Filmer foi um dos principais
proponentes desta posição, a quem Locke ofereceu, no primeiro tratado, uma
refutação sentença-a-sentença, contribuindo assim para a extinção do
patriarcalismo como posição política.
No segundo tratado Locke aborda suas própria ideias acerca de como a
sociedade deveria organizar-se de modo mais civilizado, para tanto apresentou a
ideia, revolucionária para a época, de "direitos naturais", aqueles
que, diferindo dos direitos legais, não dependeriam de qualquer autoridade
constituída e portando seriam inalienáveis, não podendo ser restringidos pela
lei humana, por serem sustentados pela ideia de lei natural. Esta lei natural é
utilizada no tratado para desafiar a suposição de direito soberano divino dos
monarcas. O autor classifica como direitos naturais três itens, o direito à
liberdade, o direito à vida e o direito à propriedade. Desta forma, ofereceu
ainda uma justificativa racional para outros elementos que considerou
fundamentais para esta sociedade mais civilizadamente organizada, entre eles,
o contrato social, um acordo
explicito ou não entre os indivíduos de uma sociedade.
Em termos de teoria da mente, Locke definiu a mente humana como uma
tabula rasa na qual a experiência imprime as ideias. Defendeu assim que, todo
conhecimento seria originado pela percepção sensorial e que não haveriam ideias
inatas, aquelas com as quais o ser humano seria dotado desde o nascimento.
Influenciou os rumos do que viria a ser conhecido como Empirismo Britânico e
recusou as teorias de filósofos racionalistas, como Descartes, que defendiam a
primazia da razão na geração das ideias.
Locke argumentou ainda em favor da tese de que haveriam duas formas
pelas quais as ideias poderiam surgir, pela sensação e pela reflexão. As ideias
provenientes da sensação são aquelas que surgem do contato direto com os
objetos, por outro lado, aquelas que surgem por reflexão, são relativas a
percepção das ideias adquiridas pela sensação. Qualificou ainda estas ideias em
duas categorias, as ideias simples e as complexas.
As ideias simples, defende Locke, referem-se as qualidades primárias e
secundárias dos objetos, por isto não são passíveis de análise. Por qualidades
primárias, Locke entende aquelas qualidades que definem a essência de um
objeto. Por exemplo, o arranjo especifico da estrutura atômica de uma cadeira é
uma qualidade primária, qualquer outro arranjo faria outro objeto e não uma
cadeira, especificamente, não faria aquela cadeira em particular. As qualidades
secundárias tratam das informações adicionais acerca do objeto, definindo seus
atributos (cor, sabor, espessura, etc).
Quando combinamos ideias simples entre si, formamos ideias complexas,
estas constituem as substancias, os modos e as relações. Ao compreender a
concordância e discordância entre ideias executamos a percepção das ideias,
dando origem ao conhecimento. Esta tese, depois reformulada por David Hume, se tornaria a
base do empirismo moderno.
Racionalismo
X Empirismo:
ATENÇÃO
ALUNOS:
·
Nossa PET (apostila) para primeira semana vai da
página 132 à 135.
·
Na página 135 vocês encontraram as atividades para
serem feitas.
·
São quatro questões apenas que devem ser feitas em
seu caderno..
·
No texto complementar se encontrarão um texto sobre
John Locke e outro com as principais diferenças entre racionalismo e empirismo. Esse
texto os ajudará a fazer as atividades da quarta semana da segunda pet.
AULA DA TERCEIRA SEMANA - PET VOLUME 2
PET 2 - Texto Complementar 3: DESCARTES
DESCARTES E O CETICISMO:
“Penso, logo existo” (em latim: cogito ergo sum) é também um ataque ao ceticismo. O objetivo de Descartes(1596-1650) era atingir a certeza, ou seja, o conhecimento verdadeiro. Acontece que a tradição cética já havia estabelecido que o homem não podia ter certeza de nada. Todo conhecimento é inseguro e não está livre de dúvidas. Portanto, para buscar a certeza seria preciso superar os céticos. Descartes precisava então somente de uma coisa: uma única certeza absoluta.
Para isso, ele utilizou a própria argumentação cética de forma radical. Disse que este mundo poderia ser uma grande mentira, uma ilusão criada por um demiurgo, um ser que usou todo seu engenho para nos enganar. Nada existe, nem o mundo e nem nosso corpo. Tudo é criação desse demiurgo. Descartes procedeu como os céticos, seguiu duvidando de absolutamente tudo até não restar mais nada.
No entanto, durante essa busca, Descartes percebeu algo impressionante. Ele duvidava de tudo, e ele não poderia duvidar que ele duvidava. Ele pensava e duvidava, e por mais que ele não tivesse um corpo e que a realidade fosse uma grande ilusão, era impossível negar que ele pensava.
E neste mundo de dúvidas nasceu uma certeza: ele existia, existia porque pensava. “Penso, logo existo” é uma certeza absoluta, irrefutável. Com essa conclusão, os céticos estavam derrotados e Descartes poderia prosseguir sua busca pela verdade.
DESCARTES E O GÊNIO MALIGNO:
O gênio maligno foi uma metáfora usada pelo filósofo francês René Descartes para evidenciar que nenhum pensamento por si mesmo traz garantias de corresponder a algo do mundo. Anuncia o gênio maligno como um ente que coloca na cabeça dele, Descartes, pensamentos bastante evidentes, contudo, falsos. O gênio maligno estaria continuamente a trabalhar para criar ilusões.
Com isso, Descartes mostrou que somos falíveis, e que devemos ter muito cuidado ao examinar nossos próprios pensamentos, buscando a verdade em todos os detalhes, para evitar sermos "enganados" pelo gênio maligno, ou seja, o conhecimento a priori nunca deve ser considerado como certo.
Aparece o gênio maligno pela primeira vez nas Meditações sobre filosofia primeira (Meditationes de prima philosophia, 1641). Na primeira meditação, Descartes escreve: "Irei supor, então, não a existência de uma divindade (…) um gênio maligno, que é ao mesmo tempo sumamente potente e enganoso, empregue todo seu talento para lograr a mim. Vou acreditar que o céu, o ar, a terra, as cores, as figuras, os sons e todas as demais coisas externas são nada mais do que ilusões de sonhos, que esta criatura emprega para me iludir."
ATENÇÃO ALUNOS:
· Nossa PET (apostila) para primeira semana vai da página 128 à 131.
· Na página 131 vocês encontraram as atividades para serem feitas.
· São duas questões apenas que devem ser feitas em seu caderno..
· No texto complementar se encontrarão um texto sobre Descartes e o ceticismo. Esse texto os ajudará a fazer as atividades da terceira semana da segunda pet.
AULA DA SEGUNDA SEMANA - PET VOLUME 2
PET 2 - Texto Complementar 2: MAQUIAVEL
NICOLAU MAQUIAVEL:
Niccolò di Bernardo dei Machiavelli, mais conhecido no Brasil como Nicolau Maquiavel, foi um filósofo que viveu e produziu entre os séculos XV e XVI, na região de Florença. Dedicou-se a explicação e compreensão do estado, política e homens de estado como estes são na realidade, em oposição àqueles autores que formularam teorias acerca de como deveria ser o estado ou o governante ideal. Para além de descrever o estado de sua época, Maquiavel também apresentou estratégias e métodos sobre como os homens de estado deveriam comportar-se para tirar maior proveito da realidade, mantendo e expandindo o poder.
Maquiavel é visto como um proponente do que viria a ser o cientista empirista moderno, defendendo que expandir a partir da experiência e fatos históricos é o melhor método de se desenvolver uma filosofia consistente, especialmente em política, e que a teorização a partir da imaginação é inútil. Com esta aproximação, Maquiavel foi capaz de afastar a política da teologia e da filosofia moral, desenvolvendo-a como uma disciplina em si mesma. Assim, contribuiu para a compreensão de como os governantes de fato agem e mesmo para a antecipação de seu comportamento. Defendeu o estudo da fundação de uma nação e a compreensão de seus elementos originais como essencial para a antecipação do futuro.
Grande dificuldade foi encontrada por autores posteriores ao tentar estabelecer a moral de Maquiavel. Devido a sua posição realista acerca da natureza e forma de manutenção do estado e suas instituições, especialmente sua descrição de como a desonestidade e a morte de inocentes pode ser útil aos políticos, em sua obra mais famosa, O Príncipe. Maquiavel foi criticado e repudiado veementemente por diversos estudiosos políticos e, especialmente, teóricos da moral, o que contribui para a associação de seu nome a uma característica inescrupulosa, com a criação do adjetivo "maquiavélico".
Por outro lado, autores como Baruch Spinoza, Jean-Jacques Rousseau e Denis Diderot defenderam que Maquiavel era na verdade um republicano e que suas ideias foram extremamente úteis para a compreensão do estado, inspirando o Iluminismo e consequentemente o desenvolvimento da filosofia política democrática moderna. O autor italiano Benedetto Croce defendeu Maquiavel afirmando que sua posição era a aceitação de que, na realidade, as regras morais afetam muito pouco a ação e decisões dos políticos. A interpretação aceita atualmente é a de que Maquiavel se coloca como um cientista político, procurando distinguir os fatos da vida política dos valores do julgamento moral.
Encontramos em Maquiavel uma critica ao aristotelianismo teológico, aceito pela igreja, e a relação da igreja com o estado, que levaria muitas decisões práticas a serem tomadas com base em ideais imaginários. O aristotelianismo teológico foi a mais sofisticada forma de justificação do cristianismo e, na visão de Maquiavel, teve como efeito justificar a preguiça e inação das pessoas frente aos desafios da vida e da sociedade, ao esperar pela providência divina para solucionar tais desafios. Este posicionamento, de recusa da sorte e destino baseados em algo externo a vida humana, classificou Maquiavel como um humanista. Enquanto encontramos em filósofos como Platão a descrição da politica, tornando-o mais próximo de Maquiavel do que Aristóteles, tais filósofos sempre tiveram uma inclinação para posicionar a filosofia acima da política, enquanto Maquiavel recusava qualquer ideia teleológica, aquelas que postulam causas finais ideais.
Embora seguidores de Maquiavel tenham preferido métodos mais pacíficos e baseados na economia para promover o desenvolvimento, é aceito que a posição de aceitação de riscos, ousadia, ambição e inovação que Maquiavel sugere aos lideres políticos ajudou a fundar novos modos de se fazer política e negócios.
PORQUE O TERMO MAQUIAVÉLICO NÃO SE APLICA A MAQUIAVEL:
Maquiavel não era maquiavélico. ... Na referida obra, Maquiavel traçou o perfil e ideias do indivíduo que buscava o poder sem escrúpulos, o que acabou lhe rendendo o adjetivo de maquiavélico. Inspirou-se em César Bórgia, filho e ajudante de Alexandre 6º, que chegou ao papado, política e exército por meio da corrupção. Portanto, Maquiavel criou um perfil de um Sr humano sem escrúpulos que busca o poder, sem pensar nas pessoas, ou em quem está ao seu redor sendo assim essa pessoa que age dessa maneira, se torna um ser humano maquiavélico.
ATENÇÃO ALUNOS:
· Nossa PET (apostila) para primeira semana vai da página 124 à 127.
· Na página 127 vocês encontraram as atividades para serem feitas.
· São duas questões apenas que devem ser feitas em seu caderno..
· No texto complementar se encontrarão a biografia de Nicolau Maquiavel e uma visão do porque ele não é considerado maquiavélico. Esses textos os ajudarão a fazer as atividades da segunda semana da segunda pet.
AULA DA PRIMEIRA SEMANA - PET VOLUME 2
PET 2 - Texto Complementar 1: SÓCRATES
IMPORTANCIA DO DIÁLOGO NA FILOSOFIA SOCRÁTICA:
O diálogo tornou-se célebre na consciência ocidental como o meio de resolver conflitos, como primeira e fundamental alternativa ao estado de guerra. Como um exercício espiritual, que está enraizado em diferentes tradições, é impossível separar esta origem da figura do filósofo grego Sócrates (469–399 a.C). Não apenas o diálogo como exercício, mas a própria imagem do filósofo se associa comumente ao ateniense. “Pode-se dizer que o filósofo é definido ainda hoje pelo que ele possui de comum com Sócrates”, escreveu Nicolas Grimaldi.
Foi Sócrates, o primeiro a associar o conhecimento da verdade à cura dos males que inundam a existência do homem. Por ter como missão de vida despertar a consciência moral nos homens, Sócrates continua sendo considerado o primeiro dos filósofos. Há três traços fundamentais no labor filosófico do ateniense, que definiram a trilha de todos os demais filósofos, como nos explica Grimaldi:
“O primeiro é que um filósofo ensina tanto por meio de sua vida como de sua doutrina. O segundo é que a verdade basta para mudar nossa vida, fazendo-nos compreendê-la. O terceiro é que essa verdade é estritamente reflexiva, que ela possui, portanto, um caráter puramente lógico e nunca empírico. E até mesmo sobre esse estatuto da verdade que se engaja e se dá todo o empreendimento socrático. Contrariamente aos físicos, a verdade que importa ao filósofo não consiste em nenhum tipo de conformidade com o real, mas apenas em um acordo do pensamento consigo mesmo”.
E de que modo se dá o acordo do pensamento consigo mesmo? Por meio do diálogo. Em minhas aulas, muitas vezes brinco com os alunos questionando se há apenas discrepâncias entre o pensamento sofista clássico Górgias e a filosofia de Sócrates. Eles teriam algo em comum? O primeiro dizia nada existir e que, se existisse algo, nada se poderia saber deste algo, e que, se pudesse saber algo deste algo, nada se poderia comunicar. O segundo — Sócrates — que dizia? Ora, Sócrates dizia que nada sabia, contudo gostava de uma boa conversa.
Era o diálogo o condutor da sua relação com os outros e com o mundo, que nos levaria ao coração dos homens. Em primeiro lugar, para lhes arrancar a consciência: nada sei diante das metamorfoses e vicissitudes da vida. Em segundo, para lhes apresentar o jogo e o tabuleiro das palavras e a busca por suas origens, suas entranhas. É diante deste contexto que dialogar se apresenta como um exercício espiritual na filosofia socrática. O que nos diz Sócrates acerca do homem?
Este é um ser adoentado, uma alma que por um pecado foi aprisionada em um corpo e que dele precisa emigrar para outra dimensão, a dimensão das almas. “Outra coisa não faço senão andar por aí persuadindo-vos, moços e velhos, a não cuidar tão aferradamente do corpo e das riquezas, como de melhorar o mais possível a alma, dizendo-vos que dos haveres não vem a virtude para os homens, mas da virtude vêm os haveres e todos os outros bens particulares e públicos”, disse Sócrates ao justificar sua missão diante do tribunal de Atenas.
Pierre Hadot diz que, no pensamento socrático, o que está em questão não é aquilo sobre o que se fala, mas aquele que fala. O destino de sua prática socrática não é ensinar algo ao seu interlocutor, mas elevar a sua alma por meio do diálogo. Para tanto, ele acossa seus interlocutores com perguntas que os levam a prestar atenção sobre si, ele os leva a uma autoavaliação: “Mas, quanto ao teu pensamento (phronesis), à tua verdade (aletheia), à tua alma (psyche), que se trataria de melhorar, disso tu não cuidas, nisso tu não pensas”.
O diálogo é um exercício espiritual que convida o interlocutor a uma reflexão espiritual interior, “ao exame de consciência e à atenção a si, em síntese, ao famoso “conhece-te a ti mesmo”. O filósofo não é o sábio, mas aquele que está a caminho, diante, em direção da sabedoria (philo-sophos). Assim, com esta configuração, o diálogo socrático permanece ainda no diálogo platônico, em sua dialética, que se caracteriza por modelar, por representar um diálogo ideal.
ALEGORIA DA CAVERNA E O CONHECIMENTO:
A República, obra do filósofo Platão onde se pode ler a famosa Alegoria da Caverna, “[...] contém em suas páginas o que se poderia chamar de projeto político-educativo, pois toda a argumentação ali posta recai fundamentalmente sobre duas questões: a política na pólis e a educação do cidadão” (MENESCAL, 2009, p. 65). Além disso, através desta alegoria, Platão narra o “[...] processo de ascensão da alma submetida à educação [...] descrito por Platão como um elevar-se para além das experiências sensíveis, e ele o representa através da célebre alegoria da caverna, apresentada no livro VII” (LAZARINI, 2007, p. 41).
A estreita relação entre o projeto educativo e o projeto político de Platão é ressaltada por vários autores, como Tiago Lara (1989), Antônio Soares (1995) e Pierre Hadot (2008), quando este destaca a possibilidade de transformar a vida na polis através da educação filosófica de homens sábios e justos.
A filosofia é filha da polis, sendo assim, a Filosofia é Política, de modo que é impossível a separação dessas duas instâncias. Mas não basta somente o envolvimento nas e com as questões características da vida na polis, antes, é necessário submeter-se a um gradativo e sistemático processo de aprofundamento, o qual não é outro senão o da Educação (RIBEIRO, 2005, p. 83).
Ao elaborar sua uma doutrina política, onde somente os filósofos eternos amantes da verdade, teriam condições de se libertar da caverna, das ilusões dos sentidos e caminhar em busca da sabedoria, Platão imagina uma sociedade ideal, onde seria governada por reis-filósofos, onde essas pessoas teriam todo conhecimento de uma sociedade do bem, pois, aquele que pela contemplação das ideias, conheceu a essência do bem e da justiça deve comandar a cidade. E Platão entende que a educação tem um papel fundamental nesse processo.
Em relação ao projeto educativo do rei-filósofo, significa que esse dirigente, na qualidade de governante da pólis, precisa superar o mundo sensível, logo, superar as aparências, as crenças, a ignorância, a irracionalidade, enfim, o mundo das opiniões, tendo em vista atingir o mundo inteligível (OLIVEIRA, 2015, p. 200).
Com efeito, o processo de saída da caverna da ilusão do mundo sensível para o mundo inteligível corresponde a todo um processo pedagógico e de aprendizado e que não está livre de obstáculos: no momento em que ele sai da caverna e se depara com a luz do sol, ele fica temporariamente cego e impedido de ver os objetos do mundo inteligível tal como de fato são. Mas sua condição já não é a dos presos acorrentados, que não viam senão sombras do mundo real. O filósofo sai da caverna e conhece a realidade do mundo inteligível. Descobre que vivia acorrentado em sua própria ignorância, em um mundo de ilusões, que era falso e que existe outra realidade além daquela escuridão.
A alegoria da caverna é uma metáfora em que Platão vai justificar a necessidade da educação na criação de um novo cidadão, com o qual será possível construir um mundo melhor e mais justo e de como a educação deve ser um processo para aquisição de novos conhecimentos.
Platão, ao propor um novo modelo educativo na República, objetiva tirar pessoas da caverna da ignorância. Procura fazê-las ascender o verdadeiro conhecimento, para que não vivam na escuridão, não vivam sob a falsa impressão do saber, por entender que as aparências dos objetos, ou seja, a cópia da cópia dos mesmos, não passam de imitação(Rep.392d) do verdadeiro conhecimento (RODRIGUES, 2007, p. 51-52).
A alegoria da caverna retrata a ideia de que os aspirantes à sabedoria devem descobrir as coisas superando os problemas impostos pela vida. E a educação funciona como forma de desenvolver o homem moral, que deve dedicar todos os seus esforços para o seu desenvolvimento intelectual, físico, moral e espiritual. A caverna de Platão, uma das mais fascinantes e assustadoras metáforas do pensamento ocidental, retrata de forma alegórica o processo educacional de libertação que todos os indivíduos, homens e mulheres, devem empreender ao longo de sua existência.
Platão interliga a Alegoria da Caverna com a Educação. O principal objetivo é a busca do conhecimento das Ideias perfeitas, eternas e imutáveis que correspondem a realidade verdadeira, e compreendê-las é alcançar o máximo de conhecimento. Simplificando, podemos dizer que aquele que alcança o conhecimento do bem o conhecimento verdadeiro, torna-se melhor e vive mais feliz.
Mas esse processo é lento e doloroso em que os indivíduos vão se expondo aos obstáculos da vida em busca da verdade. Com efeito, A educação platônica é uma educação comprometida com o ensino da verdade. Todo o sistema educacional de Platão está edificado sobre a noção fundamental da verdade, sobre a conquista da verdade pela ciência racional. É a posse da verdade que definirá, segundo Platão, o verdadeiro orador, o verdadeiro médico, o verdadeiro político, bem como o verdadeiro filósofo. Conforme assinalou MARROU (1990:111): “Qualquer que seja o campo da atividade humana para qual alguém se oriente, não há mais que uma alta cultura válida: a que aspira à verdade, à possessão da verdadeira ciência.” (RIBEIRO, 2005, p. 83-84).
E nesse processo o primeiro passo é o reconhecimento da natureza incompleta deste mundo de ilusões. No contexto das suas limitações iniciais os prisioneiros tinham uma forma de olhar para o mundo e, pelo menos para eles, esta forma de ver a realidade fazia sentido. Mas pouco a pouco, e na medida em que são libertados e levados a ver o mundo fora da caverna, com mais luz e com outra luz, vão percebendo que esta nova forma de ver tem ainda mais sentido. Tornam-se então seres mais conscientes do mundo que os rodeia.
E o que dizer do indivíduo que se liberta da caverna, contempla a verdadeira realidade e sente o impulso de voltar a caverna para ajudar os seus amigos que lá permaneceram presos? Não seriam estes os grandes espíritos iluminados que tem em comum o objetivo de educar os povos levando-os a ver e conhecer a verdade, como era o caso de Sócrates? Não seriam também todos aqueles que, após assumir a função de pedagogos, ajudam seus alunos a despertar o seu conhecimento para uma realidade maior e mais ampla? Ademais,
Da filosofia à ação política, a educação do filósofo na cidade ideal implica, portanto, uma dupla atitude: um ato de elevação (sair da caverna) – alçar-se à contemplação do bem e um ato de regressão (voltar à habitação subterrânea) – saber como proceder em meio aos cidadãos (LAZARINI, 2007, p. 46).
De qualquer modo, trata-se da exemplificação de como podemos nos libertar da condição de escuridão que nos aprisiona e através da luz da verdade atingir novas formas de conhecimento. E nesse caso a Alegoria da Caverna traz implícita também toda uma teoria do conhecimento e da educação ligada a formação do Estado ideal. Mas o que é a educação sem a teoria do conhecimento? Para saber o que ensinar, é preciso saber como aprender. E antes de perguntar o que devemos ensinar, devemos saber qual o melhor processo de aprendizagem que a educação pode nos oferecer para se atingir níveis mais elevados de conhecimento.
Nesse sentido a paideia platônica está diretamente relacionada com os diferentes níveis e estágios do conhecimento que para Platão são em número de quatro divididos dois a dois: os dois primeiros pertencentes ao mundo sensível e os dois últimos, ao mundo das Ideias. No mundo sensível o primeiro estágio é preenchido por imagens, sombras e reflexos correspondendo ao nível de conhecimento da opinião e da suposição (ou senso comum se assim o quisermos). O segundo estágio em um nível mais elaborado, mais “científico”, mas onde prevalece ainda a crença e a opinião.
No mundo das Ideias o terceiro estágio é ocupado por objetos matemáticos, correspondendo a uma transição do conhecimento sensível ao conhecimento inteligível. E o último estágio, finalmente, pertence às Ideias, e o conhecimento não sofre qualquer interferência dos sentidos, verificando-se apenas pela via da intelecção. Vemos assim que os prisioneiros da caverna são, na verdade, uma clara alusão de Platão à condição humana, pois os homens encontram-se absorvidos por suas crenças e opiniões mas, muito longe do verdadeiro conhecimento e da sabedoria. E aquele que se libertou dos sentidos e alcançou o conhecimento absoluto é a concretização da excelência humana, o homem em sua areté.
E aqui a Alegoria da Caverna converge com um outro Mito: o Mito da Linha Dividida. Na realidade a Alegoria da Caverna é que surge como uma forma simplificada de explicar este outro Mito em que Platão apresenta de forma mais detalhada e aprofundada sua teoria do conhecimento, dividindo o conhecimento a partir de quatro modos de relação com a realidade (sensível e inteligível). Com efeito, ao terminar a explicação sobre os diferentes níveis de conhecimento usando como imagem a “linha dividida” e para tornar ainda mais claro e compreensível o entendimento de seus interlocutores é que Sócrates irá propor no diálogo a imagem do Mito da Caverna que se inicia no Livro VII de A República.
A Alegoria da caverna é uma metáfora da condição humana perante o mundo, no que diz respeito à importância do conhecimento filosófico e à educação como forma de superação da ignorância, isto é, a passagem gradativa do senso comum enquanto visão de mundo e explicação da realidade para o conhecimento filosófico, que é racional, sistemático e organizado, que busca as respostas para as grandes questões que afligem a condição humana.
ATENÇÃO ALUNOS:
· Nossa PET (apostila) para primeira semana vai da página 119 à 123.
· Na página 123 vocês encontraram as atividades para serem feitas.
· São duas questões apenas que devem ser feitas em seu caderno, incluindo a redação do número 1.
· No texto complementar se encontra uma pesquisa sobre a Alegoria da Caverna, bem como um texto sobre: Importância do Diálogo na filosofia de Sócrates . Esses textos os ajudarão a fazer as atividades da primeira semana da segunda pet.
AULA DA QUINTA SEMANA:
Texto Complementar 5: DEMOCRACIA
Filosofia e Democracia
A filosofia é compreendida como uma das mais importantes contribuições oferecidas pela civilização grega. O tão afamado “gosto” que os gregos possuíam pela sabedoria pode ser considerado como um item que influiu na construção de outros diferentes aspectos desta sociedade. Nesse sentido, podemos destacar como a constituição do regime democrático dentro dessa civilização também pode ser visto como um dado importante no desenvolvimento da filosofia.
Antes do surgimento da democracia, o regime político grego era controlado pelos grandes proprietários de terra. O privilégio e o nascimento eram os critérios para que as instituições políticas fossem organizadas nas mãos de uma minoria. Com o aparecimento do ideal democrático, essa minoria perdeu lugar para a figura de um cidadão capaz de argumentar, fazer escolhas, criticar concepções e defender perspectivas.
Toda essa capacidade exigida desse novo cidadão abriu espaço para que os jovens fossem preparados para o exercício da cidadania. Foi nesse período em que surgiram os sofistas que criticaram sistematicamente os pensadores cosmologistas. Esses filósofos tinham a pesada preocupação de explicar racionalmente as origens do mundo, a personalidade do homem e a ordenação da natureza. Em contrapartida, os sofistas ignoravam essas questões dizendo que o convencimento das idéias era o que importava.
Essa concepção oferecida pelos sofistas ganhou grande espaço no regime democrático, já que as assembléias eram dotadas por discussões onde os cidadãos decidiam a aprovação das leis. Entre os principais mestres do sofismo destacava-se Isócrates de Atenas, Protágoras de Abdera e Górgias de Leontini. Mesmo conseguindo arrebanhar diferentes seguidores, os sofistas sofreram a crítica sistemática de outros filósofos como Sócrates.
Segundo esse filósofo grego, as idéias deveriam contar com um profundo processo reflexivo para que pudessem alcançar um critério de verdade. Por isso, Sócrates convocava os cidadãos de Atenas a conhecerem a si mesmos. O poder de convencer por meio das idéias demonstrava um distanciamento entre os convincentes discursos sofistas e a reflexão do pensamento socrático.
De fato, esse tipo de situação desenvolvida na Grécia Antiga nos demonstra como a instalação do regime democrático e a discussão das idéias promoveu uma interessante etapa no desenvolvimento da filosofia. Mais importante do que saber quais destes pensadores tinham razão, devemos ver que a filosofia não nasce por meio de idéias puras, mas se desenvolve com o auxílio de outras instâncias que promovem o debate filosófico.
ATIVIDADE para a 5ª Semana de Aula:
Faça uma redação respondendo esses questionamentos: No Brasil vivemos realmente uma Democracia? Ou ela é mascarada por interesses particulares de nossos políticos?
AULA DA QUARTA SEMANA
Texto Complementar 4: INDIVÍDUO E COMUNIDADE: LEI E JUSTIÇA
EUROCENTRISMO E ETNOCENTRISMO:
O Eurocentrismo é um termo utilizado para designar a centralidade e superioridade da visão europeia sobre as outras visões de mundo. As pessoas eurocêntricas levam em conta somente os valores europeus. Em resumo, o eurocentrismo é um sistema ideológico, donde a cultura europeia é colocada como a mais importante das culturas constitutivas das sociedades do mundo, no entanto, essa visão é tida como preconceituosa, já que não contempla as outras formas de expressões.
Etnocentrismo é um conceito antropológico usado para definir atitudes nas quais consideramos nossos hábitos e condutas como superiores aos de outrem. sso acontece em todas as sociedades, devido aos preconceitos produzidos pela própria dinâmica cultural e que nos leva a adotar os padrões culturais que nos são familiares.
DEMOCRACIA E SOBERANIA EM ROUSSEAU:
Em um Estado republicano, a soberania pertence ao povo e não pode ser alienada. “E o que é, segundo Rousseau, a soberania? Não é outra coisa, senão o exercício da vontade geral, sendo esta, a vontade do corpo do povo e tendendo sempre ao bem comum” (ANTUNES, 2006, p. 60). Para Rousseau a soberania se exerce através do poder legislativo que, em um Estado legítimo, somente pode ser exercido pelo povo, único detentor do poder soberano. “O soberano, constituído pelo pacto social, é o povo incorporado, ditando a vontade geral, cuja expressão é a lei” (CHEVALIER, 1999, p. 170). E mais adiante: “A soberania, ou poder do corpo político sobre todos os seus membros, confunde-se com a· vontade geral, e seu caráter é exatamente o dessa vontade: inalienável, indivisível, infalível, absoluta” (id., ibidem, p. 171). A concepção de soberania de Rousseau se a opõe aquela de Pufendorf, que defende a possibilidade de a soberania ser alienada, ou seja, transferida a terceiros e que “caso a transferência da soberania esteja fundada sobre o consentimento [do povo], então a soberania dada ao governo se torna legítima” (DERATHÉ, 1979, p. 254). E por que a soberania não pode ser dividida? Porque, segundo Antunes (206, p. 64), ao “dividir-se a soberania, divide-se a vontade geral, o que, conseqüentemente, causa a sua destruição, degenerando-a em vontade particular” (ANTUNES, 2006, p. 64)
Soberania do Povo, isto é, dos cidadãos em conjunto, soberania inteiramente abstrata, em substituição à soberania concreta de um Luís XIV, usurpada sobre a de Deus! Soberania que opõe a O Estado sou eu, do monarca absoluto, O Estado somos nós, dos governados em conjunto! (CHEVALIER, 1999, p. 174)
Ao considerar que o exercício da vontade geral é a soberania é preciso ressaltar a distinção que existe entre ambas, a partir de um pequena sutileza. No capítulo IV do livro II do Contrato Social, Rousseau apresenta de forma mais explícita essa distinção. A este propósito veja citação a seguir: “[...] o pacto social proporciona ao corpo moral e político um poder absoluto sobre todos os seus membros, poder este que Rousseau chama soberania e é dirigido pela vontade geral”. A partir dessas afirmações é possível aceitar que soberania e vontade geral se distinguem, sendo aquela o poder do corpo político e esta o que lhe dá movimento e direção. A vontade geral se apresenta como legitimadora do poder político, sendo ela a expressão da soberania do Estado, o qual é o corpo político formado pelo conjunto de todos os cidadãos através do contrato social. Soberania e vontade geral se apresentam numa relação de complementariedade. O conceito de vontade geral, é fundamental na construção teórica de Rousseau. Por isso mesmo, este conceito é discutido incansavelmente e ponto de muita polêmica, sendo apontado como contraditório ou, no mínimo, paradoxal. (ANTUNES, 2006, p. 72).
Outra distinção que deve ser feita é em relação a concepção de democracia e república. Para o genebrino, o Estado que delega o governo a uma pessoa ou grupo, deixa de ser uma democracia. Mas ao mesmo tempo em que o Estado deixa de ser uma democracia, ele continua sendo uma república na medida em que o legislativo permanece inalienável e intransferível (no momento em que o povo não detém mais o poder legislativo, também perde sua soberania, sendo apenas súdito ou escravo e não mais soberano ou cidadão). Nesse sentido, pode-se dizer que, para Rousseau, a monarquia e a aristocracia são formas legítimas de governo, desde que republicanas. Todo governo regido por leis, entendendo-se que tais leis são a expressão da soberania da vontade geral, é republicano e legítimo. As leis que regem esses Estados, por sua vez, correspondem à vontade geral quando ratificadas pelo povo, corpo político ao qual pertence essa vontade soberana. A partir daí, monarquia, aristocracia e democracia são formas legítimas de governo, que devem ser adotadas conforme as condições do Estado.
Em um Estado republicano, como dizíamos, a soberania deve ser manifestada pela capacidade legislativa, e o executivo, ou administrador (príncipe ou presidente), é apenas um agente que aplica a lei aos casos específicos; sendo seu poder simples concessão do soberano. Além disso, a separação entre Poder Legislativo (que trata do interesse geral) e Poder Executivo (que trata da aplicação das leis à casos particulares) visa impedir o abuso da autoridade soberana. Em Rousseau é explícita a separação entre o poder legislativo e o poder executivo: aquele que executa as leis é um mero funcionário de quem as ratifica.
Soberania e poder legislativo fundem-se na figura do povo contratante. Sendo o contrato (pacto) firmado entre cada indivíduo e o conjunto destes, cabe unicamente ao povo o poder soberano, que se trata da autoridade máxima e inquestionável. Cabe necessariamente ao povo ratificar suas leis, visto serem estas a expressão da vontade geral. O governo, que se ocupa da execução daquilo que já está prescrito pela lei, é considerado mero funcionário do soberano por ser encarregado de uma função secundária.
O governo não pode ser confundido com o soberano, pois aquele está a serviço deste, que é o corpo do povo e possui o direito de legislar, enfim, o poder de decisão. A vontade é geral e a força deve submeter-se a ela concorrendo para sua realização. Ao governo, sendo “um corpo intermediário estabelecido entre os súditos e o soberano para sua mútua correspondência, encarregado da execução das leis e da manutenção da liberdade, tanto civil como política”, cabe analisar e tratar das questões particulares (ANTUNES, 2006, p. 70).
Exprimir as vontades do corpo político cabe somente a este: no caso, o povo. O ato de executar aquilo que pede uma vontade já expressa é uma função que pode ser delegada a outro, neste caso, o governo.
Nesse sentido podemos dizer que o poder legislativo tem uma função superior à do poder executivo e, quanto ao primeiro, não pode haver transferência deste poder do soberano para qualquer tipo de representante. “Devemos enfatizar que tal poder não pode ser representado pelo mesmo motivo pelo qual a vontade geral não o pode: o ato de querer não é representável. Ninguém pode querer pelo outro, muito menos por todo um povo” (GOMES, 2006, p.47). Quanto ao poder executivo, este sim pode ser exercido por funcionários designados pelo povo.
Rousseau critica a ideia de representação sobretudo no que diz respeito ao soberano e sua função legislativa. Para Rousseau, a representação política traz consigo um problema grave, que deve ser combatido nos seios do Estado, qual seja, o tráfico dos interesses privados nos negócios públicos. Já a representação no poder executivo leva a uma discussão diferente daquela sobre a mesma no legislativo. A primeira discussão remete à pergunta sobre a melhor forma de governo, que, segundo Rousseau, depende de cada Estado. A segunda discussão traz a problemática da impossibilidade de representar a vontade geral e, por sua vez, a soberania nacional. Ele enfatiza a ligação entre soberania e poder legislativo para não deixar dúvidas de que somente o que for ratificado pelo povo soberano em forma de sufrágio popular pode ser considerado lei. Quaisquer decretos feitos por funcionários do executivo são abusos do Governo. Dessa forma, o legislativo não pode ser representado, mas o executivo, que é submisso ao primeiro, pode (GOMES, 2006, p. 70-71).
Apesar de Rousseau ser partidário da democracia direta, entendendo a representação como uma forma de alienação da soberania, razão pela qual ela é inalienável, existe espaço para a representação no Contrato, a partir da figura dos deputados do povo, sendo que estes são apenas seus comissários.
A questão sobre a representação passa em Rousseau pela pergunta sobre o que pode ou não ser representado. A busca pela resposta partirá dos conceitos de vontade geral e soberania popular. O poder soberano pertence ao povo em união. É nessa união que se forma a vontade geral, que não pode de forma alguma ser transferida ou representada. Perguntamos então a Rousseau: o que é que não pode ser representado? Sua resposta é: a vontade soberana do povo.
O governante de uma nação a representa na medida em que age em nome de seus cidadãos. Ele não substitui o povo em sua soberania, apenas age no lugar dele, devendo respeito aos detentores deste poder. Rousseau dizia que a vontade geral, identificada com o poder soberano, não pode ser representada. Nesse caso, não é a vontade que o governante representa: ele age no lugar do povo, mas a sua vontade não toma o lugar da vontade geral. Ele tem a autonomia necessária para agir sem a necessidade de a cada passo consultar o povo a que representa. Mas em cada atitude ele tem a consciência de sua responsabilidade nesse cargo, pois deve prestar contas periodicamente e pode ser destituído de seu posto caso não faça seu trabalho honesta e corretamente.
Essa discussão em torno de uma democracia direta ou representativa leva a uma série de dilemas e, por mais difícil que seja a instituição de uma democracia no sentido literal do termo, a participação direta de todos os cidadãos nas decisões do governo é a única maneira em que se dá uma administração que possa ser corretamente chamada de democracia. Por outro lado, exercer diretamente o poder executivo, por menor que seja o Estado e por mais simples que sejam suas questões a serem resolvidas, exige um tempo e uma dedicação dos quais raramente dispõe a maioria dos cidadãos.
Daí que, por falta de tempo, estrutura e, no entender de Rousseau, principalmente por comodidade, são eleitos representantes para realizar as tarefas políticas. O principal problema está no fato de que, dentre essas tarefas políticas, encontra-se também a aprovação das leis do Estado, tarefa cabível somente ao povo soberano. A aprovação das leis corresponde ao poder legislativo e este é inalienável e não pode ser representado por ser a expressão da vontade geral. Contrariando essa exigência do Contrato, o poder legislativo comumente é delegado a representantes que, como o próprio nome dá a entender, têm a permissão para tomar decisões em nome do povo. O povo, por sua vez fica à mercê das atitudes destes representantes, sendo obrigado a obedecer leis que não foram ratificadas diretamente por ele. Segundo o genebrino, a representação serve somente para escravizar o povo, que prefere a comodidade da escravidão a uma liberdade cheia de responsabilidades civis (GOMES, 2006, p. 51-52).
Ademais, a participação popular pode e deve ser incentivada e possibilitada através da Educação. É a constante participação no exercício do poder que contribui com a educação de cidadãos ativos. A contribuição se dá pela experiência direta, proporcionando ao cidadão uma visão mais clara do funcionamento do governo e exigindo dele maior consciência dos problemas do Estado. Participação popular e educação se fundem num círculo que deve ser preservado e aprimorado a cada instante, de geração em geração (GOMES, 2006, p. 66). O que se faz necessário para que o sistema republicano funcione bem é que seja investido na educação dos indivíduos que compõem o Estado para que estes se tornem cidadãos participativos.
ATENÇÃO ALUNOS:
· Nossa PET (apostila) para a terceira semana vai da página 113 à 116.
· Na página 116 vocês encontraram as atividades para serem feitas.
· São 4 questões que devem ser feitas em seu caderno. Não é necessário fazer o número 5.
AULA DA TERCEIRA SEMANA:
Texto Complementar 3: INDIVÍDUO E COMUNIDADE: CONFLITO
THOMAS HOBEBES:
Considerado como um dos teóricos do poder absolutista em vigor na Idade Moderna, Thomas Hobbes viveu entre 1588 e 1679. Para Hobbes, o Estado deveria ser a instituição fundamental para regular as relações humanas, dado o caráter da condição natural dos homens que os impele à busca do atendimento de seus desejos de qualquer maneira, a qualquer preço, de forma violenta, egoísta, isto é, movida por paixões.
Afirmava que os homens não tiram prazer algum da companhia uns dos outros quando não existe um poder capaz de manter a todos em respeito, pois cada um pretende que seu companheiro lhe atribua o mesmo valor que ele atribui a si próprio. Dessa forma, tal situação seria propícia para uma luta de todos contra todos pelo desejo do reconhecimento, pela busca da preservação da vida e da realização daquilo que o homem (juiz de suas ações) deseja. Deste ponto de vista surgiria a famosa expressão de Hobbes: “O homem é o lobo do homem”.
Daí, nas palavras de Hobbes, “se dois homens desejam a mesma coisa [...] eles se tornam inimigos”. Todos seriam livres e iguais para buscarem o lucro, a segurança e a reputação. Nas palavras de Francisco Welfort, em sua obra intitulada Os Clássicos da Política (2006), a igualdade entre os homens, na visão de Hobbes, gera ambição, descontentamento e guerra. A igualdade seria o fator que contribui para a guerra de todos contra todos, levando-os a lutar pelo interesse individual em detrimento do interesse comum. Obviamente, isso seria resultado da racionalidade do homem, uma vez que, por ser dotado de razão, possui um senso crítico quanto à vivência em grupo, podendo criticar a organização dada e, assim, nas palavras de Hobbes, julgar-se mais sábio e mais capacitado para exercer o poder público.
Dessa forma, a questão da igualdade e da liberdade em Hobbes é vista de forma diferente daquela leitura mais convencional destes termos, com significados “positivos”, como se viu nas revoluções contra o poder absolutista dos reis, principalmente no caso da Revolução Francesa. Logo, a liberdade segundo Hobbes seria prejudicial à relação entre os indivíduos, pois na falta de “freios”, todos podem tudo, contra todos.
A paz somente seria possível quando todos renunciassem a liberdade que têm sobre si mesmos. Hobbes discorre sobre as formas de contratos e pactos possíveis em sua obra Leviatã, apontando ser o Estado o resultado do “pacto” feito entre os homens para, simultaneamente, todos abdicarem de sua “liberdade total”, do estado de natureza, consentindo a concentração deste poder nas mãos de um governante soberano. Seria necessária a criação artificial da sociedade política, administrada pelo Estado, estabelecendo-se uma ordem moral para a brutalidade social primitiva. Citando Hobbes, Francisco Welfort mostra que o Estado hobbesiano seria marcado pelo medo, sendo o próprio Leviatã um monstro cuja armadura é feita de escamas que são seus súditos, brandindo ameaçadora espada, governando de forma soberana por meio deste temor que inflige aos súditos. Em suma, este Leviatã (ou seja, o próprio Estado soberano) vai concentrar uma série de direitos (que não podem ser divididos) para poder deter o controle da sociedade, em nome da paz, da segurança e da ordem social, bem como para defender a todos de inimigos externos. Mais especificamente, nas palavras de Hobbes:
“Isso é mais do que consentimento ou concórdia, pois resume-se numa verdadeira unidade de todos eles, numa só e mesma pessoa, realizada por um pacto de cada homem com todos os homens [...] Esta é a geração daquele enorme Leviatã, ou antes – com toda reverência – daquele deus mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, nossa paz e defesa” [...] É nele que consiste a essência do Estado, que pode ser assim definida: ‘Uma grande multidão institui a uma pessoa, mediante pactos recíprocos uns aos outros, para em nome de cada um como autora, poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum’. O soberano é aquele que representa essa pessoa”. (HOBBES, 2003, p.130-1 31).
Dessa forma, estes seriam alguns dos princípios que justificariam os discursos do poder absolutista ao longo da Idade Moderna. Fica evidente que neste modelo de Estado que desconsiderava as liberdades individuais não haveria espaço para a democracia e suas instituições. Ao contrário, os usos da força, da austeridade e da repressão, geram sociedades onde prevalece a desigualdade, a instabilidade, o medo e o esvaziamento da discussão política. Por isso, o final da Idade Moderna foi marcado pela Revolução Francesa, encabeçada por uma burguesia descontente com os desmandos de um rei e desejosa por participação política. Assim, ao se olhar para a História, é possível ver que as características deste Estado Soberano não se limitaram às monarquias na Europa, mas também se fizeram presentes – mesmo que indiretamente e com outra roupagem – em diversos regimes ditatoriais como no Brasil e em tantos outros países na segunda metade do século XX, guardadas as devidas proporções. Da mesma forma, é contra Estados totalitários com tais características que lutam hoje muitos povos do norte da África e do Oriente Médio.
CONTRATUALISMO:
O contratualismo é uma teoria política e filosófica baseada na ideia de que existe uma espécie de pacto ou contrato social que retira o ser humano de seu estado de natureza e coloca-o em convivência com outros seres humanos em sociedade. Foram filósofos contratualistas os ingleses Thomas Hobbes e John Locke, e o suíço Jean-Jacques Rousseau.
Contratualismo e jusnaturalismo
A ideia de um contrato social parte do princípio de que a sociedade é estabelecida em comum acordo para que um certo fim seja alcançado. O contrato social é o momento em que o ser humano deixa de viver como um ser natural e passa a viver como um ser que se destaca da natureza, criando suas próprias leis, sua moral, os costumes e um conjunto de instituições para que a convivência seja mais harmônica.
Segundo os filósofos contratualistas, há um período da humanidade, que é o período pré-social, em que o ser humano encontra-se em seu estado de natureza. O estado de natureza é o período em que a sociedade ainda não se formou, quando não há uma lei civil e, portanto, uma civilização para amparar o convívio social. Esse estado é regido por uma lei de natureza que coloca os seres humanos em plena igualdade de direitos. Chamamos esse conjunto de direitos naturais e a teoria do estado de natureza de jusnaturalismo.
O grande problema do estado de natureza é que a igualdade de direitos gera conflitos, e, para que a convivência seja mais pacífica entre as pessoas, é necessário instituir um conjunto de leis civis que solucione todos os possíveis conflitos que podem surgir nela. O estado formado após o estado natural é chamado de sociedade civil ou estado civil.
Quem criou o contratualismo?
A convivência dos seres humanos em um estado civil acompanha a humanidade desde o desenvolvimento das mais antigas civilizações. Não é possível determinar quando, exatamente, o ser humano deixou de viver em seu estado de natureza e assumiu para si um pacto civil. Os filósofos contratualistas tratam o estado de natureza, inclusive, como um momento hipotético e didaticamente desenvolvido para explicar o surgimento da sociedade. A teoria contratualista, por sua vez, foi pela primeira vez descrita na Inglaterra, no século XVII, pelo filósofo e teórico político Thomas Hobbes.
Pensadores contratualistas
Temos como os principais contratualistas modernos os filósofos Thomas Hobbes, John Locke e Jean-Jacques Rousseau. Cada pensador apresenta sua ideia de contrato social, apontando diferentes concepções de estado de natureza e diferentes motivos para que a humanidade aderisse ao pacto social.
Thomas Hobbes
O filósofo e teórico político inglês era um monarquista convicto. Em defesa à monarquia em um período de crise política na Inglaterra, ele publicou o seu mais conhecido livro: Leviatã, ou Matéria, forma e poder em um Estado eclesiástico e civil. A palavra leviatã designa uma criatura marinha do imaginário antigo (descrita inclusive em passagens do Antigo Testamento) que seria um monstro gigantesco protetor dos peixes e animais marinhos menores. Isso tem a ver com o modo como Hobbes concebia a sociedade e o Estado: um monstro violento e gigantesco que existia para proteger os cidadãos. Thomas Hobbes é considerado o primeiro pensador contratualista.
A concepção de Estado, para Hobbes, é pautada na ideia de que deve haver uma forte concentração de poder estatal a fim de tornar o convívio suportável. Isso seria necessário porque o ser humano em seus estado de natureza era, segundo Hobbes, violento e cruel, sendo o ser humano natural uma espécie de lobo do próprio homem.
Os impulsos de violência do ser humano em seu estado natural levavam-no à convivência difícil regida pelo medo, pela desconfiança e pelo caos. O Estado seria a criação necessária para controlar esse modo de vida caótico por meio da força e da concentração da violência.
Uma curiosidade sobre o livro Leviatã é que ele foi escrito e publicado em inglês, ao contrário das obras de intelectuais da época, que eram publicadas em latim. A intenção de Hobbes, ao publicar o seu escrito em defesa do Estado monárquico em uma língua de maior acesso à população da Inglaterra, era conseguir um maior alcance, para que mais pessoas pudessem ler e, consequentemente, aceitar a monarquia que se encontrava em crise no século XVII. Para saber mais sobre esse filósofo contratualista de origem inglesa, acesse: Thomas Hobbes.
John Locke
John Locke, o filósofo contratualista defensor da propriedade privada.
O filósofo e teórico político inglês John Locke, ao contrário de Hobbes, era contra a monarquia. Locke foi um defensor do parlamentarismo, forma de governo adotada na Inglaterra no fim do século XVII, e também é considerado o “pai” do liberalismo político e um dos “ancestrais” do liberalismo econômico.
O estado de natureza, segundo Locke, era um período de plena igualdade entre todas as pessoas. Todos eram regidos pela lei natural, que garantia a posse sobre qualquer bem natural, inclusive sobre o mesmo bem, sem restrições. Essa lei natural de igualdade irrestrita gerava, segundo o pensador, problemas quando as pessoas queriam a mesma posse. A saída defendida por ele foi a instituição de um estado civil, com leis e normas sociais que regulamentariam a posse e impediriam os conflitos.
A sociedade civil e o pacto social seriam, portanto, necessários para regulamentar a posse de bens, e o Estado era uma instituição que deveria obedecer a certos limites, principalmente quando se trata da propriedade. Para Locke, o Estado não deveria ter extrema força, como pensou Hobbes, e deveria agir em conformidade com os limites do direito à propriedade. Para aprofundar-se nas ideias desse filósofo, acesse: John Locke.
Jean-Jacques Rousseau
O pensador suíço é uma espécie de contratualista crítico do contratualismo. Para Rousseau, era no estado de natureza que o ser humano encontrava-se plenamente livre de qualquer amarra institucional que o privaria de sua liberdade natural. O ser humano era amoral em seu estado de natureza. Desconhecendo a moral, ele desconheceria também a maldade. A maldade somente passou a ser praticada intencionalmente quando o ser humano descobriu de vez o que era certo e o que era errado, ou o que era o bem e o mal.
Rousseau, o contratualista crítico do contratualismo.
Para Rousseau, o Estado civil havia sido criado de maneira ilegítima, de modo que a sociedade civil baseada na propriedade privada era um meio de corrupção do ser humano. O pensador suíço defendia uma reformulação da sociedade, a fim de que a vontade geral fosse atendida em um governo que realmente quisesse estabelecer o bem social e não simplesmente atender aos privilégios de uma classe dominante. A fim de conhecer mais sobre suas ideias, acesse: Rousseau e o contrato social.
Hegel e a crítica ao contratualismo
O filósofo alemão Georg Wilhelm Friedrich Hegel era extremamente contrário à teoria contratualista. Para ele, o que o contratualismo entendia como vontade geral era um mero elemento contratual, acordado entre os cidadãos. Como Hegel baseia-se em uma concepção idealista, o que ele entendia por vontade geral era um conceito puro que deveria ser mantido como existente em uma instância racional, acima de qualquer elemento de acordo ou contrato. Nesse sentido, a vontade geral percebida pelos contratualistas não era a vontade geral em si, mas apenas um elemento que teria surgido baseado em um acordo.
UM OLHAR SOBRE A VIOLÊNCIA NO BRASIL
A violência se manifesta por meio da tirania, da opressão e do abuso da força. Ocorre do constrangimento exercido sobre alguma pessoa para obrigá-la a fazer ou deixar de fazer um ato qualquer. Existem diversas formas de violência, tais como as guerras, conflitos étnico-religiosos e banditismo.
A violência, em seus mais variados contornos, é um fenômeno histórico na constituição da sociedade brasileira. A escravidão (primeiro com os índios e depois, e especialmente, com a mão de obra africana), a colonização mercantilista, o coronelismo, as oligarquias antes e depois da independência, somados a um Estado caracterizado pelo autoritarismo burocrático, contribuíram enormemente para o aumento da violência que atravessa a história do Brasil.
Diversos fatores colaboram para aumentar a violência, tais como a urbanização acelerada, que traz um grande fluxo de pessoas para as áreas urbanas e assim contribui para um crescimento desordenado e desorganizado das cidades. Colaboram também para o aumento da violência as fortes aspirações de consumo, em parte frustradas pelas dificuldades de inserção no mercado de trabalho.
Por outro lado, o poder público, especialmente no Brasil, tem se mostrado incapaz de enfrentar essa calamidade social. Pior que tudo isso é constatar que a violência existe com a conivência de grupos das polícias, representantes do Legislativo de todos os níveis e, inclusive, de autoridades do poder judiciário. A corrupção, uma das piores chagas brasileiras, está associada à violência, uma aumentando a outra, faces da mesma moeda.
As causas da violência são associadas, em parte, a problemas sociais como miséria, fome, desemprego. Mas nem todos os tipos de criminalidade derivam das condições econômicas. Além disso, um Estado ineficiente e sem programas de políticas públicas de segurança, contribui para aumentar a sensação de injustiça e impunidade, que é, talvez, a principal causa da violência.
A violência se apresenta nas mais diversas configurações e pode ser caracterizada como violência contra a mulher, a criança, o idoso, violência sexual, política, violência psicológica, física, verbal, dentre outras.
Em um Estado democrático, a repressão controlada e a polícia têm um papel crucial no controle da criminalidade. Porém, essa repressão controlada deve ser simultaneamente apoiada e vigiada pela sociedade civil.
Conforme sustenta o antropólogo e ex-Secretário Nacional de Segurança Pública , Luiz Eduardo Soares: "Temos de conceber, divulgar, defender e implantar uma política de segurança pública, sem prejuízo da preservação de nossos compromissos históricos com a defesa de políticas econômico-sociais. Os dois não são contraditórios" .
A solução para a questão da violência no Brasil envolve os mais diversos setores da sociedade, não só a segurança pública e um judiciário eficiente, mas também demanda com urgência, profundidade e extensão a melhoria do sistema educacional, saúde, habitacional, oportunidades de emprego, dentre outros fatores. Requer principalmente uma grande mudança nas políticas públicas e uma participação maior da sociedade nas discussões e soluções desse problema de abrangência nacional.
AULA DA SEGUNDA SEMANA:
Texto Complementar 2: UNIVERSALIDADE E RELATIVIDADE
UNIVERSALISMO E RELATIVISMO
Em diversas áreas da vida cotidiana, podem ser vislumbradas as marcas do universalismo, como no caso na política. Neste caso, uma concepção universal política compreende uma ideologia relacionada à unificação dos poderes e de todas as instituições do mundo em um único modo de organização. Por exemplo, os grandes impérios com seu poder durante a Idade Média, o reinado dos impérios bizantinos ou do sacro império romano-germânico e dos califados muçulmanos da ex Constantinopla. Não se deve confundir a relação “universalismo político” com “globalização”, já que no caso desta última se fusionam diferentes elementos de várias comunidades ou coletividades para serem transformadas de maneira unificada, porém reestruturada.
Em relação à religião, podemos nomear o universalismo cristão, onde sua base principal é a fé com o cumprimento dos deveres de cada homem, também como forma de respeito ao próximo. Neste sentido, a fé cristã consiste na crença de que Deus é o principio da criação de todas as coisas e que seus princípios são necessários para cultivar a moral humana, condição essencial para atingir o bem-estar do ser humano. Desta forma, professar a fé cristã estabelece a defesa da conversão ao cristianismo para propagar a moral e o bem-estar humano a partir da religião cristã.
O mesmo pode ser associado ao Islamismo, religião que desde sua origem no século VII estabeleceu uma visão universal em sua doutrina, expressa por seu criador Maomé e escrito no livro sagrado o Alcorão.
Por último, é importante reconhecer que o oposto a uma visão universal é uma visão nominal, ou também chamada de particular, que estabelece uma maneira individualista de abordar e interpretar a realidade. Assim mesmo, o universalismo é uma corrente de pensamento que não nega a existência das formas nominais, mas nega que sejam verdadeiras.
Entenda-se por relativismo a teoria filosófica fundada na relatividade do conhecimento, recusando toda e qualquer verdade ou valor tidos como absolutos. A opinião e o ponto de vista são importantes meios válidos de conhecimento. Por outro lado, a moral, a religião ou a política, por exemplo, são verdades relativas ao indivíduo, não verdades objetivas ou transcendentes. As coisas são como são e cada indivíduo pode interpretá-las de forma a aproximar-se da realidade. O Relativismo pode ser entendido assim como a postura ou teoria de refutar a existência de verdades e de defesa da opinião.
Na sociedade pluralista e agnóstica da atualidade, a verdade absoluta tende pois a ser um conceito a perder-se, numa época de diferenças e de mitigação das normas sociais, fazendo com que a diversidade seja observável também em questões de religião, de ética e de justiça, modelando assim a sociedade e a cultura. Não existindo normas sociais ou éticas transcendentes, absolutas, ganha contorno o relativismo social e cultural como sistema ético de diferenciação do bem e do mal. Toda a verdade é relativa a uma cultura ou sociedade específicas. O que uma sociedade aprove, será correto para ela, como tudo o que condenar, será mau. Assim, o bem e o mal já não são determinados em absoluto mas apenas em relação a determinada sociedade. Não existem, no relativismo, social ou cultural, normas finitas e supremas de bem e de mal para julgar a própria sociedade. Socialmente, o relativismo permitiu que aquilo que no passado era considerado "mal", "errado", hoje não tem nem essa conotação nem é igualmente considerado "bem" ou "correto": por exemplo, a homossexualidade, a pornografia, interrupção voluntária de gravidez, o ateísmo, etc. Com o relativismo, dá-se o fim dos monopólios da verdade ou das "verdades" de certas religiões como normas absolutas para outras religiões, como sucedeu com o Cristianismo até ao século XX, ou com o Hinduísmo, na Índia, para não falarmos nos comportamentos sociais daí derivantes.
Bem e o Mal
É a ciência pura da Filosofia que leva o indivíduo a pensar e, pensando, elaborar perguntas e respostas sobre a vida, o viver a vida, os que vivem ao seu lado e os que vivem distantes de si, com semelhanças e diferenças.
Alicerces básicos da Filosofia são as dicotomias. O bem e o mal. O certo e o errado. O moral e o imoral. O justo e o injusto. Não se deve confundir valorações com valores. A justiça, o direito, a moral, o bem, são valores absolutos, os quais deveriam reger a vida de qualquer ser humano desde que este se entendeu como tal, até que resista à extinção.
Quando, onde e porque é justo ou injusto, certo ou errado, bom ou mal, moral ou imoral fazer ou deixar de fazer algo, são elementos temporais e espaciais, portanto relativos, pertencentes aos momentos históricos.
A nação que conseguir ensinar as bases da Filosofia aos jovens herdeiros do País, ou seja, da máquina estatal e do livre mercado em sintonia e simbiose, estará por milênios à frente das demais, não para se impor tiranicamente, mas para liderar com sabedoria – o que inclui os maiores ganhos financeiros, sociais, científicos e humanos, independentemente da ordem, dividindo-os com as demais nações.
Desde que o ser humano passou a raciocinar, ou seja, observar, apreender, comparar, experimentar, questionar e concluir, sempre disposto a mudar caso provado outra conclusão, os conceitos do bem e do mal não mais se limitaram aos escritos religiosos. Independentemente da crença religiosa, o sujeito passou a compreender o que era e é fazer o bem e fazer o mal, seja para si mesmo, seja para outrem ou ainda para a comunidade.
A velocidade com que a raça humana proliferou e se multiplicou foi tamanha e em condições tão diversas que o entendimento primordial de se fazer o bem pelo bem, acabou se perdendo diante da necessidade de alimento, abrigo e preservação. Na verdade, os mesmo elementos que ainda impedem a raça humana de evoluir como um todo, não ideal, mas unido em diferentes etapas.
Relações humanas. Troca de bens, troca de interesses e troca de influências. As relações são, em essência, uma coleção de trocas. Até mesmo a base da vida, as relações químicas atômicas e moleculares, são, apenas, trocas. Trocas que criaram todo o universo e ainda o regulam.
Na ciência denominada Química, os diversos elementos da tabela periódica possuem características únicas. Porem, toda essa individualidade só faz sentido na interação entre os elementos. Trocam elétrons, alteram o núcleo, mudam a carga energética. Combinam e colaboram em nome da vida, do existir.
A diferença entre as relações humanas e as equações químicas é que os átomos não são egoístas. Mesmo quando mais densos ou complexos, combinam-se para que o objetivo seja melhor conjuntamente.
Os átomos não têm noção do bem ou do mal. Eles realizam suas tarefas, ou fins, segundo a Filosofia. Fazem e cumprem o que foram feitos para fazer e cumprir. Humanos não. Observando a imensidão do cosmo, não passam de átomos ou menos que isso. Ainda assim, discordam por pouco. E a discórdia leva um a extinguir o outro. Seja a cor do elemento, a carga elétrica, o gênero químico, em suma, as diferenças entre humanos até hoje não são construtivas. São marcas da insegurança, da suposta ausência de identidade, quando de fato a identidade é apenas uma, um DNA.
No mundo elementar as diferenças são os tijolos da diversidade e a beleza do universo. Se a raça humana existe hoje, deve tal fato à diversidade, à interação e à combinação de todos os elementos.
Todos. Todos mesmo? Será? E o matuto que não foi à escola? E o analfabeto? E os demais tidos como excluídos das possibilidades de crescimento pessoal? Sim, todos devem ser considerados. Não existe conceito de evolução da espécie enquanto alguém ficar de fora da escala de aprendizado, comunitário e individual. Isso só é utopia para quem não pretende colaborar com o próximo. No mais, é projeto de crescimento conjunto, cada um no seu tempo, mas todos crescendo.
Talvez agora fique mais palatável verificar que a Justiça, o Direito e a Moral sejam valores absolutos que regem a humanidade. Sempre regeram. É possível provar. Pegue duas crianças de 4 anos. Coloque um pedaço de bolo à frente delas. Uma faca sem perigo de corte na mão de uma delas. Peça para dividir o pedaço entre elas duas. Em geral, fora casos de desequilíbrio familiar, as duas desejam pedaços iguais. Logo, as duas buscam o direito de usufruir igualmente de um bem, e, dessa forma, o que é justo a cada uma delas. Nunca leram uma lei, mas sabem o que é certo.
Até as crianças sabem o que é certo. O que é fazer o bem. Claro, antes de ficarem reféns dos traumas ancestrais e da televisão. Mas, sabem até um ponto.
A internet com suas redes sociais, blogs, mini blogs, comunicadores instantâneos, posts, vídeos online, gravações clandestinas e amadoras, denúncias e polêmicas está contribuindo para que os conceitos do bem e do mal não mais residam em cartilhas impostas pelo governo de um país ou de um grupo.
Seja em que canto do mundo for, gente com fome e doença é ruim. Gente que não pode se expressar livremente é ruim. Gente iludida pelo próprio governo é muito ruim. E veja que isso não depende da condição econômica, já que a maior potência econômica do mundo demonstrou que nem seus cidadãos sabiam das falcatruas dos poderosos que prejudicaram a estabilidade do mundo todo.
Ser solidário, ser compreensivo e paciente é bom. Ensinar a ser autossuficiente é bom. Abolir o assistencialismo e adotar ao construtivismo responsável é bom. Repartir o que todos se esforçaram para ganhar é bom.
Na essência, todo ser humano sabe o que é bom ou mau. Sabe o que significam o bem e o mal. Seja para si mesmo seja para o semelhante. Na essência. Variáveis como meio familiar, cultural, socioeconômico e similares afetam tais conceitos um tanto.
De nada adianta expor o problema sem, no mínimo, apresentar uma sugestão viável de solução. Logo, um conceito interessante de fazer o bem, é atentar que o ato em si repercuta o máximo possível além do sujeito imediato que o recebe. Por exemplo, dar esmola sem saber o que será dela é um desastre. Oferecer um recurso qualquer sabendo que aquilo passará além de quem recebe é um bom indício. Aulas, livros, orientação, paciência. O bem além do alguém.
É de se presumir que fazer o bem sem saber a quem não é propriamente uma boa ação, tratada assim. É preciso fazer o bem inicialmente sabendo a quem, imaginando que tal bem alcançará outros, esses sim, os que não se sabe a quem.
E para que não se possa falar de teorias inaplicáveis, é sugerido que se pare apenas com as críticas ao Estado, Governo e governantes por serem omissos ou distantes para com seus governados. Apenas falar, não leva a nada. Para cobrar o bem, faça o bem.
Se vai doar livros, roupas ou o que for, não mande entregar. Peça para buscar, mesmo que o transporte seja por sua conta. Receba os destinatários ou seus representantes. Ou, ainda, vá junto entregar. Converse. Entenda. Pode sim discordar. Mas escute. E se precisar falar, fale. Sempre com educação. Não imponha condições. Aprenda e ensine. Troque sem preconceitos. É bastante possível interagir positivamente, e não por medo de invasão ou rebelião.
O eleitor que rendeu voto ao atual governo o fez por deseducação e necessidade. Como será possível mostrar o que está errado, senão pelo reconhecimento do sofrimento genuíno experimentado por ele? Isso é fazer o bem pelo bem comum. Investindo tempo e recursos nos que estão à volta, propagam-se a educação e o conhecimento, elementos de uma nação forte e consciente.
Não se trata de parar de protestar a respeito do assalto tributário exercido pelo Fisco Brasileiro em todas as esferas, mas, sim, de fazer o que os governantes não fazem com tais recursos: educar nossa gente. Educar para que se lembrem desde a infância, como reconhecer o que é o bem e o que é o mal.
Depender de qualquer pessoa ou órgão é bastante mau. O bem maior é ser independente para agir e pensar, sempre. Todos podem ajudar. Não basta ser consciente, é preciso se comprometer em fazer.
O que é Bioética:
A Bioética é uma área de estudo interdisciplinar que envolve a Ética e a Biologia, fundamentando os princípios éticos que regem a vida quando essa é colocada em risco pela Medicina ou pelas ciências. A palavra Bioética é uma junção dos radicais “bio”, que advém do grego bios e significa vida no sentido animal e fisiológico do termo (ou seja, bio é a vida pulsante dos animais, aquela que nos mantém vivos enquanto corpos), e ethos, que diz respeito à conduta moral. Trata-se de um ramo de estudo interdisciplinar que utiliza o conceito de vida da Biologia, o Direito e os campos da investigação ética para problematizar questões relacionadas à conduta dos seres humanos em relação a outros seres humanos e a outras formas de vida.
Origem
A Bioética surgiu na segunda metade do século XX, devido ao grande desenvolvimento da Medicina e das ciências, que avançaram cada vez mais para a modificação da vida humana e a promoção do conforto humano, bem como para a utilização de cobaias vivas (humanas e não humanas). A fim de evitar horrores, como os que foram vividos dentro dos campos de concentração nazistas e de técnicas médicas que ferissem os princípios vitais das pessoas, surgiu a Bioética como meio de problematizar o que está oculto na pesquisa científica ou na técnica médica quando elas envolvem a vida.
Importância
A importância social da Bioética centra-se, justamente, no fato de que ela procura evitar que a vida seja afetada ou que alguns tipos de vida sejam considerados inferiores a outros. A Bioética discute, por exemplo, a utilização de células-tronco embrionárias em suas mais diversas problemáticas, passando pela necessidade de abortar-se uma gestação para retirar tais células e pelos benefícios que os tratamentos obtidos por esse recurso podem promover para as pessoas. Também é tratado por estudiosos de Bioética o respeito aos limites que devemos ter ao lidar com animais, seja para o cuidado ou a alimentação, seja para a utilização comercial deles, pois são seres vivos dotados de sentidos e capazes de sofrer.
Princípios da Bioética
Em Princípios de Ética Biomédica, Beauchamps e Childress estabelecem quatro princípios básicos que devem nortear o trabalho bioético tanto para as ciências que utilizam cobaias quanto para as técnicas biomédicas e médicas que lidam diretamente com a vida. Esses princípios estão ligados a teorias éticas conhecidas e ganham um novo contorno em suas formulações voltadas para a vida animal.
Princípio da não maleficência: consiste na proibição, por princípio, de causar qualquer dano intencional ao paciente (ou à cobaia de testes científicos). A sua mais antiga formulação pode ser encontrada no Juramento de Hipócrates, e, no século XX, ele foi estabelecido como princípio bioético pelos estudiosos Dan Clouser e Bernanrd Gert.
Princípio da beneficência: pode ter seu gérmen encontrado no juramento hipocrático, em que se é afirmado que o médico deve visar ao benefício do paciente. Beauchamp e Childress vão além, estabelecendo que tanto médicos quanto cientistas que utilizem cobaias devem basear-se no princípio da utilidade (o utilitarismo de Mill e Bentham), visando a provocar o maior benefício para o maior número possível de pessoas.
Princípio da autonomia: tem suas raízes na filosofia de Immanuel Kant e busca romper a relação paternal entre médico e paciente e impedir qualquer tipo de obrigação de cobaias para com a ciência. Trata-se do respeito à autonomia do indivíduo, pois esse é o responsável por si, e é ele que decide se quer ser tratado ou se quer participar de um estudo científico.
Princípio da justiça: baseado na teoria da justiça, de John Rawls, esse princípio visa a criar um mecanismo regulador da relação entre paciente e médico, a qual não deve ficar submetida mais apenas à autoridade médica. Tal autoridade, que é conferida ao profissional devido ao seu conhecimento e pelo juramento de conduta ética e profissional, deve submeter-se à justiça, que agirá em caso de conflito de interesses ou de dano ao paciente.
ATENÇÃO ALUNOS:
· Nossa PET (apostila) para primeira semana vai da página 106 à 108.
· Na página 108 vocês encontraram as atividades para serem feitas.
· São Três questões que devem ser feitas em seu caderno.
Texto Complementar 1: Os valores: Ser e dever Ser
CONCEITOS FILOSÓFICOS:
Deontologia:
Deontologia é uma filosofia que faz parte da filosofia moral contemporânea, que significa ciência do dever e da obrigação. A deontologia é um tratado dos deveres e da moral. É uma teoria sobre as escolhas dos indivíduos, o que é moralmente necessário e serve para nortear o que realmente deve ser feito.
O termo deontologia foi criado no ano de 1834, pelo filósofo inglês Jeremy Bentham, para falar sobre o ramo da ética em que o objeto de estudo é o fundamento do dever e das normas. A deontologia é ainda conhecida como "Teoria do Dever".
Immanuel Kant também deu sua contribuição para a deontologia, uma vez que a dividiu em dois conceitos: razão prática e liberdade. Para Kant, agir por dever é a maneira de dar à ação o seu valor moral; e por sua vez, a perfeição moral só pode ser atingida por uma livre vontade.
A deontologia também pode ser o conjunto de princípios e regras de conduta ou deveres de uma determinada profissão, ou seja, cada profissional deve ter a sua deontologia própria para regular o exercício da profissão, e de acordo com o Código de Ética de sua categoria.
Para os profissionais, deontologia são normas estabelecidas não pela moral e sim para a correção de suas intenções, ações, direitos, deveres e princípios. O primeiro Código de Deontologia foi feito na área da medicina, nos Estados Unidos.
Ética e Moral:
As palavras ‘ética’ e ‘moral’ são semelhantes em sua etimologia, mas, por convenção, adotamos a Ética como estudo teórico e específico de ações orientadas por valores morais e das consequências dessas ações - mesmo quando envolvem seres não humanos, como os animais e o meio ambiente; e a Moral para nos referirmos às práticas dos diversos agrupamentos humanos - incluindo os códigos normativos.
Considera-se que Aristóteles foi o primeiro a propor um estudo sistemático da moralidade. Em seu pensamento, não haveria propósito em implementar qualquer investigação ética sem efeitos no modo como alguém vive. Todas as propostas teóricas ainda mantêm esse ideal. Embora pareçam distantes da complexidade das situações concretas, todas as perspectivas teóricas sobre o agir moral pretendem esclarecer as dificuldades que experimentamos na prática e, por conseguinte, propor soluções para os conflitos, desacordos e dilemas morais.
É importante frisar que a reflexão filosófica sobre o agir moral tem por base as práticas morais em toda a sua complexidade, mas não se esgota em constatações de cunho social ou psicológico sobre como ou porque as pessoas decidem o que fazer. É tão importante compreender as regras e mecanismos que permeiam nossas sociedades quanto propor críticas e essas práticas: estariam elas nos conduzindo a qual fim? Valorizam o que há de humano em nós? Não podemos negar que a Ética aponta para o que pode ser realizável e não apenas para o habitual. Mesmo que o cotidiano em sua complexidade nem sempre permita um agir livre, consciente e autônomo, esses são os fundamentos a partir dos quais construímos nossas perspectivas éticas.
Podemos destacar três âmbitos de investigação do comportamento moral:
- Normativo: pretendem estabelecer os critérios que distinguem as ações em ‘corretas’, ‘erradas’, ‘permitidas’, etc. Pretendem esclarecer as dificuldades morais que experimentamos e propor normas de conduta. Esses estudos perguntam como devemos agir, se ou quando estamos moralmente obrigados a agir e quais valores morais devem orientar nossas ações. Desenvolvem-se, com essas investigações, as diversas teorias morais.
- Descritivo: investigam a natureza e o status dos valores morais com base em uma descrição das práticas morais. São estudos metaéticos, pois são uma investigação do próprio agir moral. Podemos, assim, considerar que os valores morais são relativos a culturas e sociedades, objetivos e incondicionais ou inexistentes.
- Aplicado: abrange a aplicação de teorias normativas e perspectivas a questões específicas, cujo contexto de avaliação da responsabilidade moral nem sempre se restringe ao individual. Os temas mais comuns envolvem: ética ambiental, ética médica e ética empresarial. Em todos esses, além da perspectiva estritamente moral, temos questões legais envolvidas, pois são âmbitos de ação nos quais agimos não apenas como indivíduos, mas como profissionais ou representantes de um órgão ou empresa.
De todos, a Ética é o mais interdisciplinar dos campos de investigação filosófica. Aceita contribuições de uma variedade de pesquisadores, incluindo teólogos e cientistas. O relevante para avaliar as contribuições é sempre a perspectiva crítica e a tentativa de oferecer uma explicação ou solução às dificuldades que resultam do comportamento humano.
Imperativo Categórico:
O conceito de imperativo categórico foi desenvolvido pelo filósofo alemão Kant, como conceito central de sua deontologia, aspecto da filosofia moral que trata dos deveres. O objetivo de Kant era definir uma forma de avaliar as motivações para a ação humana em todos os momentos da vida. Um imperativo seria qualquer proposição que declara uma determinada ação como necessária, a partir desta noção Kant divide os imperativos em duas categorias: categóricos e hipotéticos.
Aquelas máximas que seriam aceitáveis como lei universal, podendo ser consideradas motivação adequada para a ação humana, seriam os imperativos categóricos, implicando em exigência absoluta e incondicional. Este não pode ser desobedecido, não importando as circunstâncias, sendo um fim em si mesmo, ou seja, nenhuma outra finalidade pode justificar a desobediência e o imperativo categórico não carece de qualquer outra justificação. Diferente dos imperativos hipotéticos, que tem aplicação quando desejamos atingir algum fim determinado, por exemplo, se desejamos adquirir conhecimento, é imperativo que aprendamos. O imperativo hipotético está atrelado ao fim, ou a finalidade, almejado por aquele que age, facilitando assim a decisão de qual a ação correta a se tomar, é hipotético pois, uma vez que o agente não tenha interesse em realizar aquele fim, ou não esteja disposto a ação necessária para realiza-lo, não existe qualquer obrigação de segui-lo. É, neste sentido, facultativo e condicionado a nossas inclinações.
Por sua vez, o imperativo categórico é uma decisão moral pautada pela razão e não por nossas inclinações, já que encerra o fim em si mesmo, é categórico porque diz "não faça x" e nunca "não faça x se teu fim é F". Por isto, não está vinculado a nenhuma particularidade, incluindo a identidade da pessoa, devendo ser aplicável a qualquer ser racional. Esta é a razão pela qual o imperativo categórico, em suas primeiras formulações, foi chamado "princípio da universabilidade".
O grande desafio de Kant, que determinou o objetivo de seu trabalho, foi o de apresentar um sistema moral que pudesse escapar dos aspectos subjetivos do utilirarismo. Em sua distinção entre Imperativos Categóricos e Imperativos Hipotéticos, Kant vê a filosofia moral de sua época com profunda insatisfação, uma vez que, segundo ele, esta não seria capaz de ultrapassar o nível dos imperativos hipotéticos. A maximização do bem para os envolvidos, premissa utilitarista, é irrelevante do ponto de vista daqueles que preocupam-se com a maximização do bem, ou do resultado positivo, apenas para si mesmos, sem importar-se com as demais pessoas. Por isto, afim de persuadir a ação moral e ser base para julgamentos morais contra as outras pessoas, seria preciso ir além do nível dos imperativos hipotéticos, que são subjetivos, uma vez que dependem do fim que se almeja atingir. Era preciso buscar um sistema moral deontológico baseado no imperativo categórico e suas exigências, uma forma de sistema moral que estivesse para além da subjetividade e pudesse ser aplicado universalmente.
Ainda, sob as condições do imperativo categórico, devemos aceitar que o valor moral de uma ação se deriva-se de sua máxima e não por suas consequências. Em outras palavras, para determinar a moralidade de uma ação devemos considerar os motivos do agente e não as consequências da ação promovida por ele. Se, por exemplo, um comerciante decide nunca enganar seus clientes por receio de que eles não retornem ao seu estabelecimento, segundo Kant, este comerciante age corretamente, embora pelos motivos errados, ele deveria agir desta forma por ser a atitude moral, já que "não enganar os clientes" é uma regra moral independente da finalidade. Pensar o oposto permitiria que, em não tendo receio de ser descoberto, o comerciante enganasse seus clientes.
ATENÇÃO ALUNOS:
· Nossa PET (apostila) para primeira semana vai da página 101 à 105.
· Nas páginas 104 e 105 vocês encontraram as atividades para serem feitas.
· São Três questões que devem ser feitas em seu caderno.
VAMOS JUNTOS TRANSFORMAR NOSSA REALIDADE!
Nenhum comentário:
Postar um comentário